Corre, Coelhinho, Corre

Tique-taque, tique-taque, tique-taque… Por vezes tenho a sensação de ter dentro da cabeça uma bomba-relógio prestes a explodir. O tempo não pára. Não temos tempo para nada. É levantar da cama, tomar banho, vestirmo-nos, tomar o pequeno-almoço, acordar o bebé, dar-lhe de comer, mudar a fralda, vesti-lo e deixá-lo prontinho para o pai o levar para o infantário porque hoje em dia não é como antigamente, as mães têm de trabalhar fora de casa porque o dinheiro não chega, depois sair de casa, apanhar autocarro até à estação de metro, apanhar o metro até à estação de comboio, apanhar o comboio e depois de sair subir a rua a correr para chegar a tempo de picar o ponto a horas, trabalhar, trabalhar, trabalhar, e depois sair e fazer o percurso inverso, sempre a correr porque somos como o Coelho Branco, chegar a casa, enfiar o jantar do bebé no microondas para o aquecer enquanto despimos o casaco e descalçamos os sapatos, dar-lhe de comer por entre birras e colheres de sopa atiradas ao chão, sempre com um pato amarelo de brincar a grasnar um quá-quá furioso, como que a dizer «come-a-sopa-come-a-sopa-come-a-sopa», fazer o jantar dos adultos, comer à pressa enquanto enfiamos mais umas colheradas de arroz ou massa na boca da criança, enfiar a loiça suja do na máquina, dar banho ao bebé, vesti-lo e deitá-lo, para depois por roupa a lavar enquanto se arruma tudo aquilo que está espalhado pelo chão até à hora de a máquina acabar de lavar para depois se estender a roupa e ligar a máquina de lavar loiça, vestir o pijama e finalmente agarrar no computador para se trabalhar mais duas horas ou três até ficarmos a cair de sono, porque hoje em dia não se consegue viver só com o ordenado que ganhamos no emprego, e finalmente, já com os olhos raiados de sangue de tantas horas a olhar para o monitor palpitante, ir para a cama e esperar que o bebé não interrompa o nosso sono de cinco ou seis horas mal dormidas, sempre alerta não vá não ouvirmos o despertador tocar no outro dia de manhã para começar tudo outra vez. Corre, Coelhinho, corre, que já estás atrasado. Não sabes que horas são mas sabes que as que tens não te chegam para tudo o que tens de fazer. O relógio não pára, tique-taque, tique-taque, tique-taque, e o teu coraçãozinho de coelho já vai fazendo tique-taque como ele.
22/Janeiro/2008

A ouvir: Time, Pink Floyd

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