Coitadas das galinhas

Li hoje de manhã no jornal uma notícia que me fez ficar a pensar para com os meus botões. Era uma coisa pequena, mas que pelos vistos merecia ser divulgada a todo o país como se uma catástrofe se tratasse, sobre um barracão que ardeu já não me lembro onde e que entre prejuízos materiais de umas duas ou três bicicletas e talvez uma mota que arderam, não me recordo se mais alguma coisa, e que também provocou a morte a oito galinhas.
Não tenho nada contra as galinhas, coitadinhas, foi uma pena terem virado churrasco quando ainda cacarejavam e punham ovos, mas espantei-me ver num jornal de tiragem nacional que tinham morrido oito galinhas como se não houvesse mais nada de importante para se noticiar neste país. Vá lá que ainda salvaram as restantes e mais um ou outro porco que por lá andavam, coitadas das galinhas que não tiveram culpa de nada mas que se tornaram um acontecimento por terem sido imoladas e sacrificadas, quais Joanas d’Arc de asas e penas, e estou ansiosa por ver amanhã no mesmo jornal se noticiam o funeral das pobres aves, porque dá para ver que hoje em dia na comunicação social vale tudo, há que ter assunto para encher as páginas e para fazer os telejornais durarem horas, nem que seja fazendo directos em plena tempestade de neve na Guarda para perguntar aos desgraçados dos transeuntes que têm o azar de terem de sair à rua se estão com frio, ou então para noticiar o estudo que dá conta que as lagostas afinal sentem dor, coitadas, a essas acontece sempre o mesmo que às pobres galinhas, são cozidas vidas, e pergunto-me se é preciso um estudo para perceber que um animal que é cozido vivo sente dor, e lembro-me de uma observação muito pertinente do Vergílio Ferreira, que perguntava porque é que é cruel matar um cão e não o é matar uma mosca, eles sofrem o mesmo, mas quem somos nós para saber o que se sofre quando se morre, porque que eu saiba, ainda ninguém voltou do outro lado para contar como foi.

04/Fevereiro/2008

A ouvir: A Pain That I’m Used To, Depeche Mode

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