Happy Birthday to me

Subitamente dei-me conta de que faz hoje um ano que o Coelho Branco nasceu e escreveu o primeiro post, e portanto...

Happy Birthday to me
Happy Birthday to me
Happy Birthday Coelhinho
Happy Birthday to meeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeeee

22/01/2009

Acerca dos rissóis

Quando era miúda e andava aí na terceira classe, inventei que precisava de um caderno para a escola - na altura o que eu contava eram os tostões, não os minutos, e daí ter recorrido a uma mentirinha para levar a minha avante - e lá consegui que me dessem autorização para ir à loja do Meco moleiro comprar um caderno A5 pautado, que tinha uma capa com um casal de ratinhos da Disney, o Bernardo e a Bianca, e lá voltei toda contente e saltitante para casa com o meu tesouro, e de seguida enfiei-me no quarto a escrever com a minha caligrafia hesitante de quem só tem oito anos, quis escrever um livro de contos (já nessa altura tinha a mania que sabia escrever e mesmo sem saber o que era o prémio Nobel ambicionava ganhar um) e o primeiro conto era sobre uma andorinha que se apaixonava por um pardal e a maior parte da história era a descrever o banquete do casamento, na minha cabeça se uma carocha podia casar com um rato e os porcos construir casas, porque não uma andorinha andar embrulhada com um pardal, se eram ambos pássaros e eu sabia que os burros volta e meia metiam-se com as éguas e daí a origem das mulas, e o que dizer dos ligres, resultado do cruzamento de leões com tigres, enfim, naquela idade tudo me parecia possível, bom, de volta ao banquete de casamento os pardais e as andorinhas tinham ao seu dispor uma série de iguarias, e entre elas estavam os rissóis de minhoca, e a certa altura, não sei como, esse caderno acabou por ir parar às mãos da minha professora, que ficou surpreendidíssima com o facto de eu ter inventado algo tão imaginativo como aves a comerem rissóis de minhoca, mas nunca tive coragem de dizer que tinha tirado essa ideia de um episódio do Sítio do Picapau Amarelo, de uma conversa entre a Emilinha e a Narizinho acerca de uma colónia qualquer de formigas, e isso sempre me pesou um bocado na minha consciência, particularmente de cada vez que olhava para a boneca Emilinha que a senhora Carolina me tinha oferecido no Natal e que estava sentada em cima da minha cama a fitar-me com ar acusador, «plagiadora, a ideia dos rissóis foi minha», não sei porque diabos me fui lembrar agora dessa história dos rissóis, deve ser por causa de nos dias de hoje já não haver nada de novo e de tudo ser um aproveitamento de coisas do passado, é como se de um momento para o outro todos nos tivéssemos apercebido de que os recursos ao nosso dispor são limitados e que temos de reutilizar os que há, sejam eles materiais ou ideias, já não sei o que foi feito desse caderno com o Bernardo e a Bianca na capa, mas a boneca ainda continua algures na arrecadação no sótão pronta para a qualquer instante me lembrar que não fui eu quem inventou os rissóis de minhoca.

22/01/2009

A ouvir: Everyday is exactly the same, Nine Inch Nails

44

Há quem diga que chegámos ao fim do mundo, hoje é o primeiro dia da contagem para o Armagedão, segundo alguns, pois é o dia da tomada de posse do Obama, um negro (perdão, afro-americano, que nestas coisas há que ser politicamente correcto mesmo que se ache que os políticos são apenas um mal necessário, é um bocado como as administrações dos condomínios, toda a gente fala mal mas ninguém quer ficar com essa pastilha, só que é preciso que alguém tome conta da coisa e lá se tem de arranjar quem esteja disposto a arcar com isso), enfim, ainda agora comecei e já me estou a perder, estava a tentar falar do Obama, o 44º gajo a ocupar aquela casa branca com forma de bolo de noiva, e o mundo inteiro rejubila porque finalmente o 43 vai embora, já foi suficiente mau ter que levar com o pai para ainda por cima ter de levar com o idiota do filho, um menino mimado alcoólico, megalómano e maníaco que quis dar uma de Obi-Wan Kenobi na sua cruzada contra o Eixo do Mal, sendo suportado por outros malucos como ele, deve ter ficado obcecado com isso quando viu a saga Star Wars por entre bebedeiras e ganzas, e a partir de agora já não vai dar para ligar para o paizinho a perguntar «então, 41, como é que estás? Daqui fala o 43 hehehehe», depois de ter deixado o mundo virado ao contrário e de ter sido o responsável directo por tantos milhares de mortos vai retirar-se tranquilamente para o seu rancho no Texas onde vai continuar a jogar golfe e a emborcar bourbon, enquanto que o desgraçado do Obama vai ter de trabalhar literalmente como um preto para voltar a endireitar aquela nação desgovernada, ou seja, o bebedolas do 43 deixou tudo de pantanas tal como o Katrina destruiu Nova Orleães e agora o 44 vai ter de apanhar os cacos e arrumar a casa, em Portugal continuamos a ansiar pelo D. Sebastião que há-de chegar numa manhã de nevoeiro para endireitar isto mas as expectativas dos americanos são mais elevadas, melhor dizendo, são à escala da dimensão do seu país, e como tal esperam por um Messias salvador, o desespero é tanto que nem sequer se importam de ele ser preto, e realmente no estado em que o 43 deixou aquilo, é bom que seja mesmo um Messias, porque nesta altura do campeonato o que o mundo precisa mesmo é de um milagre...
20-01-2009
A ouvir: End of the World, REM

Flores de estufa

Embora pelo título se possa pensar que se trata de uma recensão sobre um livro bastante antigo do Nuno Júdice, na verdade as flores de estufa a que me quero referir são aquelas que ficaram ofendidíssimas com o facto de D. José Policarpo ter alertado as raparigas católicas para não casarem com muçulmanos pois não sabem os sarilhos que as esperam, e qualquer pessoa com dois dedinhos de testa sabe que o homem tem toda a razão e mais alguma, e não me venham com essa treta dos casamentos mistos porque não os há, sempre que um católico se casa com uma muçulmana ou vice-versa o católico do casal tem sempre de se converter - e os intolerantes são os católicos, certo? - e uma vez mais bastou que alguém abrisse a boca para dizer algo tão evidente como o facto de dois mais dois serem quatro para desencadear uma crise à escala mundial, «ai que horror, coitadinhos, não se pode dizer mal deles senão ficam traumatizados e depois vão por bombas por aí fora de tão perturbados que ficaram, pobrezinhos», se tivermos de ir para um país muçulmano temos de respeitar, a bem ou a mal, as imposições criadas pela interpretação doentia que alguns fulanos deram ao Corão, perdão, as especificidades da cultura árabe, mas nunca vi os muçulmanos que residem no Ocidente a serem obrigados a tirar o turbante da cabeça ou, no caso das mulheres, aquelas burqas hediondas que as aprisionam, enfim, o respeito pelos vistos só funciona num sentido, ou então o problema é o excesso de tolerância dos países ocidentais, dá-se liberdade e depois dá nisto, não tarda muito começam a exigir o encerramento de igrejas e sinagogas porque lhes choca a vista, todos ficamos muito sensibilizados quando os senhores de turbante ficaram possessos por causa daqueles bonequinhos desenhados pelos dinamarqueses, «matem-nos, esfolem-nos vivos, queimem-nos em azeite!!!», diziam os senhores do turbante, mas quem se lembra daquele cartoon (não, não gosto da palavra cartune, é ridícula) com o Papa João Paulo II com um preservativo enfiado no nariz, ou do escândalo do Evangelho Segundo Jesus Cristo do Saramago, enfim, eram outros os tempos mas ainda assim nenhum dos casos teve as repercussões dos desenhos ou do livro do Saramago, e já o desgraçado do Rushdie foi ameaçado de morte por causa dos seus Versículos e ainda hoje quase trinta anos depois ainda não pode sair à rua sem recear que lhe limpem o sebo, enfim, toda a gente morre de medo dos senhores do turbante, até eles próprios, nunca se sabe quando é que um deles se manda pelos ares no meio de um mercado levando uns quantos com ele ao encontro das tais setenta huris, sempre achei que a principal causa dos conflitos no Médio Oriente era o facto de aquela gente não ter nada que fazer, se tivessem de levantar o rabo da cama cedo para ir trabalhar horas a fio para um patrão que lhes paga um salário miserável não tinham tempo para pensar nessas coisas, basta ver os ditos mercados onde por vezes alguém faz kaboom sempre cheios de gente, ainda não percebi foi como ainda nao se lembraram de declarar guerra aos croissants por ofensa ao Islão, já que como é certo e sabido os croissants deve-se ao sentido de humor retorcido de um cozinheiro árabe que entendeu dar aos bolos a forma de um Crescente Lunar para com isso afirmar a supremacia do Islão, enfim, já ando por aqui a divagar, não pretendo defender ninguém, simplesmente não entendo é o porquê de tanta celeuma, supostamente somos livres de expressar a nossa opinião, quer sejamos o Zé taxista ou a Maria das limpezas ou o cardeal patriarca, mas pronto, o homem já tem idade suficiente para saber que é preciso ter muito cuidado com tudo o que se diz e se faz, não vá ofendermos as flores de estufa...
PS.: agora da próxima vez que ligar o carro, irei pensar durante uma fracção de segundo se não me terão metido lá uma bomba...
16/01/2009
A ouvir: Throwing Stones, Paula Cole

«Estava o peixinho, veio o gato, e comeu-o...»

Quem tem mais de 25 anos lembra-se certamente deste anúncio fantástico, a não ser que sejam como eu que não me lembro do Verão Azul, e que ficou para sempre associado ao Natal, basta ouvir ou ler estas palavras para pensarmos nessa quadra, como se fôssemos o cãozito do Pavlov a olhar para o bife, adiante, e lembrei-me disso agora porque no mês passado andei a tentar encontrar os chocolates que costumávamos receber, comprados na loja ao pé da estação e juntamente com o bacalhau, os figos e as nozes, fantasias em forma de guitarra embrulhadas em papel de prata cor-de-laranja, e em forma de garrafa de champanhe (na verdade é espumante mas na altura eu não sabia a diferença), e também as pinhas, só que não consegui encontrá-las em lado nenhum, o máximo que alguma vez consegui foi umas garrafinhas na Casa Pereira com um recheio de licor mas não era a mesma coisa, e outra coisa que desapareceu do mapa foi uns rolos de chocolate semi-amargo de mais ou menos 10 centímetros de comprimento e com o diâmetro de uma moeda de dois euros e que vinham embrulhados em papel branco e com uma imagem da Torre dos Clérigos impressa a preto e branco sob um fundo que poderia ser verde-água, rosa-pastel ou azul-bebé, e que eram duros como o raio mas absolutamente deliciosos, penso que se tratava de chocolate de culinária mas lá em casa gostávamos era deles para roer, enfim, há anos que procuro esses rolos de chocolate só que devem ter deixado de os fazer ou então a fábrica que os fazia deve ter fechado, o que vai dar no mesmo, e o chato disto é que eu e muitos outros da minha idade lembramo-nos de coisas deste género mas daqui a uns trinta e tal anos os meus futuros netos hão-de perguntar ao pai se ele comia chocolates de Natal quando era pequeno e ele irá responder que sim, mas não se lembra de quais, porque todos os anos eram diferentes e mudavam a uma velocidade tal que nem dava para lhes fixar o nome e muito menos para ficar com o sabor deles gravado na nossa memória palatal (não sei se a palavra existe mas pronto, se não há passa a haver), podem chamar-me saudosista e dizer que mudar é bom e até que concordo, ainda bem que se muda e que já não vivemos em cavernas e que a idade da Pedra já terminou há muito, só que não consigo evitar sentir uma certa tristeza pelo facto de saber que daqui a alguns anos o meu monstrinho das bolachas não vai ficar de sorriso nostálgico nos lábios ao ver no youtube o anúncio que começa com «Estava o peixinho, veio o gato, e comeu-o...».
09/01/2008
A ouvir: Avalon, Bryan Ferry & Roxy Music

Foice e serrote

Não sei se já se deram conta mas anda para aí um banner que aparece em vários sites a convidar a fazer o jogo da morte para saber quanto tempo de vida nos resta, e sempre que passamos inadvertidamente com o rato por cima daquilo ouve-se o risinho sinistro da dita Morte capaz de nos arrepiar a espinha, e que está devidamente ataviada com as suas vestes negras e de foice em riste pronta para ceifar os incautos mortais, e pus-me a cogitar no porquê da foice em vez de outra coisa qualquer, a ideia era a morte como sendo uma ceifeira que ceifa as vidas, um golpe vindo do nada e já está, morreu, por mais que estejamos à espera ela acaba por vir quando ninguém está a ver, como a história da água que só ferve quando não estamos a olhar para ela, e essa coisa da foice faz-me uma certa confusão porque não é bem assim, o outro gajo bem que inventou a guilhotina para que a morte fosse rápida, cortem-lhe a cabeça e já está, como diria a Rainha de Copas, mas na realidade isso nem sempre acontece, há a chamada morte santa durante o sono e com um sorriso nos lábios, o ir-se como um passarinho, e no entanto há outras vidas cortadas a serrote, lentamente, estraçalhando-nos total e desnecessariamente, por que razão é que a gaja não usa a foice como é suposto, tem de se armar em esperta e usar o serrote, zás-zás-zás para a frente e para trás, serra-serra-serra, tens de morrer, zás-zás-zás-zás já só falta um bocadinho, bolas, ainda está aqui esta pelezita a manter a cabeça agarrada ao pescoço, enfim, é realmente uma pena que a tipa não use a foice, seria muito mais humano da parte da morte deixar-nos ir de uma só vez ao invés de nos deixar cozer em lume brando e a sofrer até ao fim.
06/01/2009
A ouvir: In the End, Linkin Park