Esperteza saloia

Se fotocopiar o calendário, será que os dias se multiplicam?

Crónica de uma morte anunciada

Um jornal noticiou que as colheres de pau estão em vias de extinção, e pus-me a cogitar com os meus botõezinhos de coelho sobre quais seriam as razões para tal drama, não é só o bicho-papão da ASAE a dizer que as colheres de pau vão ser proibidas porque são um foco de bactérias, se fosse assim também teria de se proibir o uso de esfregões para lavar a louça e vassouras e piaçabas e uma série de coisas que temos em casa, dizia eu - dizia, não, escrevia - que as colheres de pau estão em vias de extinção, e o ambiente também tem uma certa culpa, porque para cada colher de pau é preciso abater não sei quantas árvores - ou será o contrário? Acho que sim, mas quem sou eu para achar o que quer que seja -, o melhor é usar colheres de plástico made in sabe-se lá onde, sempre se ajuda a economia porque os donos das fábricas de colheres de plástico ou teflon ou o que quer que seja também têm de viver, e o governo sempre arrecada uns tostões com os impostos sobre as matérias-primas e sobre o transporte e sobre o gasóleo que os camiões que trazem as colheres de plástico e um sem-número de outras coisas, e além disso a colher de pau tornou-se um objecto obsoleto porque agora ameaçar os meninos com a colher de pau é crime, quantos homens e mulheres de hoje têm ainda pesadelos e andam no psiquiatra e a devorar caixas de prozac à conta da famigerada colher de pau, e quantos incêndios domésticos terão sido provocados por donas de casa incautas que deixaram a colher de pau ao alcance das chamas do fogão, enfim, a colher de pau é representa tantos e tantos perigos que realmente acabou por se tornar num inimigo público e por isso deve ser extinta. Morte à colher de pau.
14/06/2010
A ouvir: Last Cup of Sorrow, Faith No More