Flores de estufa

Embora pelo título se possa pensar que se trata de uma recensão sobre um livro bastante antigo do Nuno Júdice, na verdade as flores de estufa a que me quero referir são aquelas que ficaram ofendidíssimas com o facto de D. José Policarpo ter alertado as raparigas católicas para não casarem com muçulmanos pois não sabem os sarilhos que as esperam, e qualquer pessoa com dois dedinhos de testa sabe que o homem tem toda a razão e mais alguma, e não me venham com essa treta dos casamentos mistos porque não os há, sempre que um católico se casa com uma muçulmana ou vice-versa o católico do casal tem sempre de se converter - e os intolerantes são os católicos, certo? - e uma vez mais bastou que alguém abrisse a boca para dizer algo tão evidente como o facto de dois mais dois serem quatro para desencadear uma crise à escala mundial, «ai que horror, coitadinhos, não se pode dizer mal deles senão ficam traumatizados e depois vão por bombas por aí fora de tão perturbados que ficaram, pobrezinhos», se tivermos de ir para um país muçulmano temos de respeitar, a bem ou a mal, as imposições criadas pela interpretação doentia que alguns fulanos deram ao Corão, perdão, as especificidades da cultura árabe, mas nunca vi os muçulmanos que residem no Ocidente a serem obrigados a tirar o turbante da cabeça ou, no caso das mulheres, aquelas burqas hediondas que as aprisionam, enfim, o respeito pelos vistos só funciona num sentido, ou então o problema é o excesso de tolerância dos países ocidentais, dá-se liberdade e depois dá nisto, não tarda muito começam a exigir o encerramento de igrejas e sinagogas porque lhes choca a vista, todos ficamos muito sensibilizados quando os senhores de turbante ficaram possessos por causa daqueles bonequinhos desenhados pelos dinamarqueses, «matem-nos, esfolem-nos vivos, queimem-nos em azeite!!!», diziam os senhores do turbante, mas quem se lembra daquele cartoon (não, não gosto da palavra cartune, é ridícula) com o Papa João Paulo II com um preservativo enfiado no nariz, ou do escândalo do Evangelho Segundo Jesus Cristo do Saramago, enfim, eram outros os tempos mas ainda assim nenhum dos casos teve as repercussões dos desenhos ou do livro do Saramago, e já o desgraçado do Rushdie foi ameaçado de morte por causa dos seus Versículos e ainda hoje quase trinta anos depois ainda não pode sair à rua sem recear que lhe limpem o sebo, enfim, toda a gente morre de medo dos senhores do turbante, até eles próprios, nunca se sabe quando é que um deles se manda pelos ares no meio de um mercado levando uns quantos com ele ao encontro das tais setenta huris, sempre achei que a principal causa dos conflitos no Médio Oriente era o facto de aquela gente não ter nada que fazer, se tivessem de levantar o rabo da cama cedo para ir trabalhar horas a fio para um patrão que lhes paga um salário miserável não tinham tempo para pensar nessas coisas, basta ver os ditos mercados onde por vezes alguém faz kaboom sempre cheios de gente, ainda não percebi foi como ainda nao se lembraram de declarar guerra aos croissants por ofensa ao Islão, já que como é certo e sabido os croissants deve-se ao sentido de humor retorcido de um cozinheiro árabe que entendeu dar aos bolos a forma de um Crescente Lunar para com isso afirmar a supremacia do Islão, enfim, já ando por aqui a divagar, não pretendo defender ninguém, simplesmente não entendo é o porquê de tanta celeuma, supostamente somos livres de expressar a nossa opinião, quer sejamos o Zé taxista ou a Maria das limpezas ou o cardeal patriarca, mas pronto, o homem já tem idade suficiente para saber que é preciso ter muito cuidado com tudo o que se diz e se faz, não vá ofendermos as flores de estufa...
PS.: agora da próxima vez que ligar o carro, irei pensar durante uma fracção de segundo se não me terão metido lá uma bomba...
16/01/2009
A ouvir: Throwing Stones, Paula Cole

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