«Estava o peixinho, veio o gato, e comeu-o...»

Quem tem mais de 25 anos lembra-se certamente deste anúncio fantástico, a não ser que sejam como eu que não me lembro do Verão Azul, e que ficou para sempre associado ao Natal, basta ouvir ou ler estas palavras para pensarmos nessa quadra, como se fôssemos o cãozito do Pavlov a olhar para o bife, adiante, e lembrei-me disso agora porque no mês passado andei a tentar encontrar os chocolates que costumávamos receber, comprados na loja ao pé da estação e juntamente com o bacalhau, os figos e as nozes, fantasias em forma de guitarra embrulhadas em papel de prata cor-de-laranja, e em forma de garrafa de champanhe (na verdade é espumante mas na altura eu não sabia a diferença), e também as pinhas, só que não consegui encontrá-las em lado nenhum, o máximo que alguma vez consegui foi umas garrafinhas na Casa Pereira com um recheio de licor mas não era a mesma coisa, e outra coisa que desapareceu do mapa foi uns rolos de chocolate semi-amargo de mais ou menos 10 centímetros de comprimento e com o diâmetro de uma moeda de dois euros e que vinham embrulhados em papel branco e com uma imagem da Torre dos Clérigos impressa a preto e branco sob um fundo que poderia ser verde-água, rosa-pastel ou azul-bebé, e que eram duros como o raio mas absolutamente deliciosos, penso que se tratava de chocolate de culinária mas lá em casa gostávamos era deles para roer, enfim, há anos que procuro esses rolos de chocolate só que devem ter deixado de os fazer ou então a fábrica que os fazia deve ter fechado, o que vai dar no mesmo, e o chato disto é que eu e muitos outros da minha idade lembramo-nos de coisas deste género mas daqui a uns trinta e tal anos os meus futuros netos hão-de perguntar ao pai se ele comia chocolates de Natal quando era pequeno e ele irá responder que sim, mas não se lembra de quais, porque todos os anos eram diferentes e mudavam a uma velocidade tal que nem dava para lhes fixar o nome e muito menos para ficar com o sabor deles gravado na nossa memória palatal (não sei se a palavra existe mas pronto, se não há passa a haver), podem chamar-me saudosista e dizer que mudar é bom e até que concordo, ainda bem que se muda e que já não vivemos em cavernas e que a idade da Pedra já terminou há muito, só que não consigo evitar sentir uma certa tristeza pelo facto de saber que daqui a alguns anos o meu monstrinho das bolachas não vai ficar de sorriso nostálgico nos lábios ao ver no youtube o anúncio que começa com «Estava o peixinho, veio o gato, e comeu-o...».
09/01/2008
A ouvir: Avalon, Bryan Ferry & Roxy Music

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