Pai Natal vs. Menino Jesus

O Pai Natal e o Menino Jesus - qual deles o maior engodo - são personagens que desde cedo me causaram uma certa estranheza, e isto já vem desde que era bem novinha, porque na minha cabeça o Menino Jesus, sendo um bebé de colo, não poderia trazer presentes alguns, em primeiro lugar porque era tão pequeno que não tinha força para nada e nem sequer podia andar para ir às lojas fazer compras, e também ao facto de não saber onde raio é que o fedelho iria buscar o dinheiro para os comprar, se é certo e sabido que os bebés não trabalham - a não ser em algumas regiões do Norte e nos países do Terceiro Mundo - e quanto ao Pai Natal a coisa era mais ou menos igual, se era um velho era porque estava reformado e todos sabemos que as reformas em Portugal não dão para nada a não ser que tenhamos tido a sorte de termos sido eleitos deputados nem que seja só por um mês, aí sim, já deveria dar para umas barbies e uns carrinhos, e ainda para mais onde é que o velhote teria genica para andar à volta do mundo a conduzir um trenó puxado por renas que voam, se todos os velhos que conhecia andavam sempre pelo posto médico por causa das artrites e artroses e mal se seguravam nas pernas, e o Rudolfo era outro que não me convencia, cá para mim o nariz do bicho era vermelho por causa de tanta pinga, enfim, durante anos bem que tentaram convencer-me de que os presentes eram dados pelo Menino Jesus mas nunca acreditei, sobretudo porque geralmente era eu quem acompanhava a minha mãe nas compras de Natal e depois andava a fazer embrulhos para todos com os restos de papel e de laços que ainda havia de outros natais ou de aniversários, não do meu porque regra geral não recebia prendas de anos mas sim prendas de Natal 2-em-1, porque diabos não nasci noutra altura, adiante, deve ser por isso que ainda hoje adoro fazer embrulhos, perco horas preciosas a embrulhar presentes e a decorar as embalagens com laços de cetim vermelho ou com paus de canela ou com papel crepe ou botões velhos ou o que me vier à cabeça, felizmente já não preciso de estar a fazer cálculos complicados sobre como usar um papel velho para embrulhar os sabonetes e as meias como quando era miúda, agora os cálculos complicados são por causa da crise, como comprar presentes aceitáveis gastando o mínimo possível, enfim, as coisas mudam, estão sempre a mudar, mas acho que há uma que nunca muda, que é o facto de a única coisa em que realmente acredito é que não acredito em nada.
11/12/2008
A ouvir: Do They Know It's Christmas, BandAid' 84

1 comment:

  1. Ficarei à espera de uma entrada lá para a Páscoa.

    Porque isto de um coelho gigante que põe ovos em locais recônditos(!!) e/ou os traz num cestinho é a modos que perturbador. É só ver o que ele fez ao pobrezinho do Donny...

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