Pequenos desprazeres

Depois de uma lista de pequenos prazeres, lembrei-me de postar o seu némesis, a antítese, o oposto, o preto daquele branco, para manter o equilíbrio, o yin-yang ou lá o que raio, e enumerar uma série de coisas que odeio, são mais de dez, eu sei, mas num dia em que o meu estado de espírito só é comparável ao de um pittbull com dor de dentes, tinha de encontrar uma forma de dar azo à minha fúria interior.
Vamos lá a ver, coisas que realmente detesto - sim, detesto, ódio é uma palavra demasiado forte:
- sapos, tanto os bichos propriamente ditos como os outros, os figurados. Não há nada mais pavoroso, asqueroso e uma série de outras palavras acabadas em -oso do que um batráquio, nem sequer o do Vento nos Salgueiros;
- partir loiça, não importa se é uma peça herdada da minha avó ou um copo da loja dos 300. Há quem ache um verdadeiro anti-stress atirar uns quantos pratos ou copos à parede para os escaqueirar, mas partir o que quer que seja deixa-me completamente fora de mim;
- rasgar os collants;
- a televisão aos berros;
- xicos-espertos, desde os que atravessam o carro à nossa frente aos que nos empurram à porta do metro para ficar com o único lugar livre que há aos que furam as filas e que cometem todo o tipo de atropelos ao civismo;
- esquecer-me dos aniversários, e por falar nisso não me posso esquecer que hoje há um;
- música pimba;
- pessoas a tentar imitar o sotaque brasileiro para se armarem em poliglotas;
- o tique-taque dos relógios (já cá faltava o meu ódio patológico aos relógios);
- torneiras a pingar, ping, ping, ping, ping;
- diospiros, dão-me náuseas a ponto de nem sequer conseguir tocar-lhes nem suportar ver alguém a comê-los;
- ficar lavada em lágrimas por causa das cebolas;
- apanhar choques na porta do carro ou noutro sítio qualquer, faz-me parecer uma enguia eléctrica;
- ver telejornais;
- pedintes de mão estendida, particularmente os da Baixa que se espojam pelo chão e que nos agarram os tornozelos enquanto grasnam «fome!fome!»;
- telemóveis com toques estúpidos, desde arrotos a assobios a qualquer outro som que não seja o de um telefone a tocar;
- cartões de crédito ou aqueles agiotas com nome pomposo de instituições de crédito pessoal;
- reality-shows;
- o cheiro a peixe;
- vinagre;
- a sensação de que estou a ver as peças do dominó a cairem umas atrás das outras e a impotência de não poder fazer nada para travar essa queda.

17/11/2008
A ouvir: The Kill, 30 Seconds to Mars

1 comment:

  1. Ok, lista de desprazeres. Parece-me bem.
    Portanto:

    - pepino
    - permanentes em senhoras acima dos 45
    - a palavra "tuga" e a expressão "[qualquer coisa] rasgar uma beca"
    - nazis, fascistas e terceira idade damaiense em geral
    - farmaceuticos que não se riem quando, vendo-me afónico e perguntando "o meu amigo canta?", recebem a resposta "não sei, não conheço o seu amigo"
    - meias brancas
    - as boxers a enrodilharem-se enquanto caminho
    - gangsta rap e r&b lamechas
    - pessoas que consideram guitarras eléctricas, bateria e baixo "barulho"
    - pessoas que dizem "no meu tempo"
    - a gravidade, especialmente quando estou cansado e deixo cair coisas
    - evolucionistas, cientologistas, ateus extremos, creacionistas e racionalistas
    - a onda emo
    - a expressão "pós-moderno"
    - não-fumadores
    - vegans e straight-edges que julgam ter sido eleitos por um deus (um qualquer) como nobres e singulares modelos
    - pessoas que não fazem pisca nas rotundas e/ou que travam sem ter qualquer obstáculo pela frente
    - pessoas que condenam jogos de vídeo, livros, música ou filmes como causadores de suicídios e surtos psicóticos
    - meninos e meninas de Letras que fumam cachimbo, que só vêem cinema eslavo sobre escadotes e suspensórios, que só ouvem bandas obscuras (incluindo a deles) e que só lêem aquilo que ninguém gosta, usando um vocabulário demasiadamente técnico, de olhos semicerrados, fazendo boquinhas
    - pessoas que teimam em ser tratadas pelo título académico e/ou profissional
    - dores de cabeça
    - miúdos bêbados à meia-noite na Rua da Barroca
    - pessoas que falam muito da sua vida muito activa e muito curiosa e muito divertida e do seu namorado que é um "ás na cama" e da sua namorada que é uma "mulher a sério, tu nem imaginas!" e que bebem muito porque são muito "dadas" e "extrovertidas" e extremamente cultas por estarem a pagar um curso de fotografia com o dinheiro dos pais e tudo no seu quotidiano é uma imensa aventura
    - pessoas que mandam mails em cadeia a lembrar-me que “cada dia é um novo dia” e que a “Graça do Senhor está comigo”
    - poemas que rimam
    - o modo como Lisboa ficou abandonada
    - autocarros da Carris
    - pessoas que me perguntam se não tenho orgulho em ser português (sugiro Bill Hicks como resposta: “my mom and dad just fucked there… I had nothing to do with it…”)
    - pessoas que, ao avisarem que fumar faz mal, estão a dizer que os fumadores devem julgar que os cigarros têm vitaminas
    - pais e mães que abanam a cabeça e sorriem como quem diz “olha tão fofo” enquanto o seu rebento guincha e corre entre mesas de café, derrubando chávenas, roubando papéis, agarrando-se de seguida ao Noddy ou à Abelha Maia (os pais oferecendo 50 cêntimos) para logo descobrirem botões coloridos cheios de buzinas e apitos e puns, rebentos que choram e gritam porque o Noddy parou, porque a Abelha Maia parou, porque querem maaaaaaaaaaais, mamãããããããããããããã e a mamã oferecendo uma palmada/chapada afectuosa que consegue elevar mais ainda o choro do rebento (agora acompanhado pelos agudos da mãe)
    - Noddy, Abelha Maia, KIT, qualquer máquina para crianças à porta de cafés
    - rock limpinho
    - enfim, mais que tudo, pessoas que comentam blogues…


    (ouvindo: When the Trickster Starts A-Poking, Gogol Bordello)

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