Cheira mal

Uma terrinha qualquer algures nos States vai submeter a votação pública uma proposta que visa impedir que os funcionários estatais usem perfume no local de trabalho, e se por momentos pensei em como uma lei destas me teria dado jeito no 11º ano para não ter de gramar com o fedor a Tresor da Emília Leal de cada vez que vinha às carteiras corrigir os trabalhos de Técnicas de Tradução, por outro não pude evitar rir-me com a ideia de se usar o dinheiro dos contribuintes para um fim tão ridículo, quer dizer, se é para desperdiçar fundos públicos, é melhor fazê-lo em ordenados milionários para gestores públicos que não fazem a ponta de um corno, ao menos sempre se incentiva o consumo, nem que seja de gasolina para alimentar os carros de alta cilindrada, mas estava eu a dizer que o fundamentalismo democrático quer proibir as pessoas de usarem perfume no local de trabalho, e pergunto-me aonde é que isto irá parar, qual o limite para esta gente, eu não gosto de saias de balão e daquelas calças à dread com os fundilhos à altura dos joelhos, será que posso sugerir um referendo para proibir as pessoas de as usarem, e já agora os ténis com luzinhas que piscam e as correntes de ouro maciço penduradas ao pescoço, as T-shirts com fotografias de wrestlers, e sapatos vela, detesto sapatos vela, bem que poderiam fazer referendos para proibir essa coisada toda, para quê só os perfumes, se a nossa liberdade termina aonde começa a liberdade dos outros, porque é que tenho de gramar com o fedor a perfume de outra pessoa, enfim, é bem mais fácil proibir, porque não?, eu estou no meu direito de não ter de ficar enjoada com o cheiro a Tresor, mas a questão fundamental é que a Emília Leal tinha o direito de o usar mesmo tratando-se de algo nauseabundo na minha opinião, enfim, já na altura em que tive de ler o Macrotendências achei um absurdo que tudo e mais alguma coisa fosse submetido ao escrutínio público, desde a cor da iluminação de Natal da terrinha ao horário de funcionamento da única padaria do bairro, isto no meu entender parece-me o poder da democracia levado ao extremo, enfim, para um sítio que se gaba de ser o berço da liberdade de expressão, esta história de querer proibir o uso de perfume no local de trabalho cheira muito mal.

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