Estou de dieta

(Aviso: escrito com o modo nonsense on.)

Decidi fazer dieta, mas uma dieta especial: deixei de ler jornais, de ver notícias na televisão, de ouvir notícias na rádio e tudo o que implique recepcionar «informação»; agora limito-me a ler os títulos nos jornais online, e mesmo assim não é em todas as secções, e desta forma tento combater a já mítica obesidade mental aventada pelo mítico Andrew Oitke que nunca se chegou a saber se existia ou não, pelo menos nunca conseguir encontrar o dito livro que o homem supostamente escreveu, mas pelo sim pelo não, resolvi dar-lhe ouvidos e combater o excesso de informação que todos os dias nos entra pelo cérebro adentro, porque agora tudo é notícia, uns dizem que o acidente de triciclo em Alguidares de Baixo provocou um despiste de meia dúzia de carrinhos de linhas enquanto outros já prevêem uma guerra civil com a população enfurecida de Alguidares de Cima, ainda há dias li uma notícia sobre um suposto Jean Valjean que roubou um cachorro quente numa terriola qualquer na terra do Tio Sam e foi condenado a dezoito meses de cadeia, a dita notícia não referia era se o Jean Valjean dos tempos modernos tinha cadastro, se a pena foi efectivamente pelo roubo ou por posse de arma ilegal, ou por exemplo por desrespeito à autoridade, tipo «o-que-é-que-queres-ó-cabrão-pensas-que-por-teres-uma-farda-não-levas-nos-cornos-como-os-outros?», enfim, durante muito tempo ainda tentei — juro que tentei, mesmo, MESMO — separar o trigo do joio, separar o arroz de polvo malandrinho do puré de batata de pacote a saber a cartão canelado, a vitela assada com alecrim e rosmaninho das batatas fritas pré-congeladas e inundadas em óleo usado e queimado, tentei optar por uma alimentação mental saudável, com uma escolha criteriosa da informação que recolhia, dos jornais que lia, dos telejornais a que assistia, dos programas que via, mas foi em vão, a fast food mental assalta-me a toda a hora, posso recusar delicadamente o jornal gratuito que o distribuidor brasileiro tenta à força enfiar-me debaixo do braço — ok, por vezes não era delicadamente, admito — mas depois quando entro num café ou vou a casa de alguém tenho de gramar com a televisão aos berros a debitar notícias sobre as formigas electrocutadas nas pistas de carrinhos de choque da festa da Nossa Senhora dos Caramelos, ou o rádio a noticiar estudos sobre a relação existente entre a cor da casa e o salário auferido, enfim, já nem sei o que estou para aqui a escrever, o que sei é que fiquei enjoada com tanta fartura e estou num ponto em que já não sei o que é verdade ou mentira, o que é bife do lombo e o que é carne enlatada rançosa e a escorrer banha, e por isso decidi fazer uma dieta de informação, não sei se temporária ou permanente, para evitar que o meu pobre cérebro fique obeso.
07/10/2009
A ouvir: Blow, Wind, Blow, Alison Moyet

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